Diário da manha II
Leia duas notas da coluna de Mônica Bergamo, na Folha deste sábado. Volto em seguida:
Ruído
A rádio Cultura vai tirar do ar nada menos que 17 programas. A emissora diz que a medida faz parte de uma "reformulação" que irá priorizar o espaço para a música erudita e acabar com a exibição de anúncios comerciais.
Primeira Vítima
O primeiro programa a ser expelido da programação, sem maiores explicações, foi o "Diário da Manhã", do jornalista Salomão Schvartzman. "Era a maior audiência da emissora e tinha quatro anunciantes", diz ele. "Foi um problema ideológico, mas não me interessa entrar em choque político agora. Eu só queria que a Fundação [Padre Anchieta, que administra a Rádio e TV Cultura] tivesse um presidente, não um dono que retire programas do ar", afirma. A rádio nega o caráter ideológico da demissão.
Voltei
Acho bom ver com cuidado essa história de programação erudita na rádio ou a pregação do “bom-gostismo” na TV. Não se vai educar o ouvido da população — pequena população — por meio do rádio. Não adianta tentar negar o caráter de uma rádio: é meio de comunicação de massa; não é a Sala São Paulo.
Também se pode tentar transformar a TV Cultura numa sala de aula. Como ninguém liga a TV para fazer pós-graduação, o que vai acontecer é suposto excesso de requinte intelectual que ninguém vê, a exemplo de algumas aulas dadas por “filósofos”, sempre de esquerda, que estão lá para explicar o “mundo contemporâneo”, com uma platéia de moços sensíveis e de moças severas, todos muito atentos, cheios de meios-sorrisos significativos quando um Renato Janine da vida comenta, sei lá, a repressão sexual do mundo burguês... Já tentei assistir a uma ou duas aulas. Fiquei tão excitado que caí no sono. E olhem que, pra me fazer dormir, é difícil. Funciona mais do que Stilnox...
É claro que a demissão sumária de Salomão Schvartzman é preocupante. Se foi o primeiro, é sinal de que se entende que ele era o PRINCIPAL PROBLEMA da Rádio Cultura. E eu não acho que fosse. Parece que nem os ouvintes nem os anunciantes. Não sei se foi demitido porque não é de esquerda. O que sei é que ele não é de esquerda e foi o primeiro a ser demitido. Se não há aí relação de causa e efeito, há ao menos uma correlação que mereceria um pouco mais de cuidado.
Eu duvido que a Rádio e a TV Cultura vão virar uma Academia de Atenas. Não vão. Já seria muito bom se não fossem uma madraçal de esquerda. A demissão de Schvartzman não colabora para que venham ser a Academia, mas deixa o sistema com mais cheiro de madraçal.
Um péssimo sinal.