quinta-feira, dezembro 15, 2005

Pronunciamento

Como eu havia prometido, segue abaixo o pronunciamento do senador Demóstenes Torres, que me foi enviado pelo próprio.




Gabinete do Senador DEMÓSTENES TORRES
Discurso proferido em 13/12/2005


Senhor Presidente,
Senhoras Senadoras,
Senhores Senadores,
"A postura "religiosa" de que o Brasil não pode crescer a taxas superiores a 3,5% e o rocambole das metas de inflação explicam a queda do PIB no terceiro trimestre deste ano"
Antônio Delfim Neto
Eu li a cortês entrevista que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu à revista Carta Capital. Não há nada de novo no front, embora o primeiro-Tartufo esteja cada vez mais convencido da estultice de que a história é sua maior avalista. Por tudo que declarou ao jornalista, estou convencido de que Lula é caso não só para impeachment como de interdição civil. Do material jornalístico se depreende que o Presidente Lula acredita que um super-jeitinho não só irá preservar o atual mandato como lhe dará a reeleição em forma de indenização moral pelas agruras sofridas em 2005. Na entrevista, o Presidente Lula fez um esboço da linha de defesa que utilizará para conquistar outro mandato no próximo ano, embora tenha mantido a evasiva de que a recandidatura vai ser fruto de uma decisão de "foro íntimo". Então, para disfarçar que não será candidato afirmou que "iria pensar bem", por acreditar que muita coisa iria acontecer até fevereiro ou março. Perguntado pelo jornalista Mino Carta quais seriam esses tais acontecimentos, sem o mínimo respeito ao leitor da conceituada publicação, saiu com a seguinte resposta: "O natal e o carnaval pelo menos..."
O Presidente Lula quis transparecer que se sente machucado e compungido com a denunciação sem lastro a que está sendo vitimado. O sobrevivente do Palácio do Planalto criou um mundo paralelo para se desgarrar do sistema Marcos Valério de corrupção e marketing, do pagamento a Duda Mendonça em um paraíso fiscal, dos dólares de Cuba e na cueca, do mensalão, do donativo de R$ 5 milhões da Telemar ao seu filho, dos prejuízos programados dos Fundos de Pensão, do Caso Celso Daniel, da generosidade do senhor Paulo Okamoto que lhe quitou débito de R$ 29 mil, enfim, de todo o engenho corruptor do professor Delúbio Soares. Nada do que aconteceu vai constar do seu currículo político e será transferido para uma instância difusa, quase de formação imaterial e com alguma constituição teológica.
Tanto que na entrevista, ao ser graciosamente induzido a comentar as acusações sem provas, Lula adquiriu franqueza profética e retribuiu ao entrevistador: "Eu fico pensando nestas acusações... Eu fico pensando que um dia a história vai julgar o que aconteceu em 2005." É tanta hipocrisia que chegou a me causar irritação quando Lula afirmou que "as pessoas precisam saber que não é dinheiro que ganha eleição." Não é pouco dinheiro, faltou dizer o Senhor Presidente Lula, cuja costura política em 2002 para a formação da coligação com o PL foi efetuada com base na expressão monetária de R$ 10 milhões.
Na entrevista, o Presidente Lula além de praticar a mitomania revelou tendência à realização de feitos comuns à mente esquizofrênica, tanto que asseverou ter sido ele o criador do Estado brasileiro. Se não for pelo entendimento da patologia, como explicar a descrição que enganador-geral da Nação fez da herança que recebeu da Era FHC: "Se você visitasse qualquer ministério, perceberia que a maquina pública brasileira inexistia."
Se há problema, não é com o Presidente Lula. Para explicar a queda do PIB no terceiro trimestre, Lula se eximiu de toda e qualquer responsabilidade. Como lhe é habitual, transferiu a culpa para outrem e assim se safou: "Você não pode levar em conta o último trimestre deste ano, porque o Brasil tem uma cultura inflacionária, o comerciante pouco respeita o consumidor na hora de aumentar o preço." Então está dito: o comerciante é o algoz do Brasil e a ele deve ser tributado o engodo da política econômica.
Senhoras e Senhores Senadores, há vários Lulas nas respostas dadas à Carta Capital mas duvido dos resultados do empreendimento. Se a intenção foi melhorar a imagem do Presidente entre os formadores de opinião, o efeito será invertido, tamanha a desfaçatez com que o primeiro-entrevistado tratou da palavra. O Presidente Lula voltou aos tempos da posse e, em sinal de populismo retroativo, disse que ainda tem esperança de que, ao término do seu mandato, os brasileiros vão tomar café da manhã, almoçar e jantar. As tais três refeições por dia que havia garantido ao sertanejo do nordeste. Em temerária tirada, considerou o MST um "movimento importante e sério". Lula teve o descaramento de afirmar que estão a todo vapor as obras da Ferrovia Norte-Sul, quando em Goiás um metro de trilho sequer está sendo assentado. Os tais investimentos em saneamento apresentados beiram à grosseria, tamanha a maquinação dos números. Com Lula é assim: os escândalos estão em um mundo paralelo e tudo o que ele deixou de fazer compõe um conjunto de realizações de um reino da fantasia. Até sobre a sua identidade política Lula tergiversa para manter tudo impreciso. Primeiro afirmou que nunca gostou de se rotular de esquerda. Ato contínuo, na entrevista, moldou adereços napoleônicos à própria definição de si mesmo: "Se lutar pela igualdade for a grande definição de esquerda, não tem mais esquerdista do que eu no mundo".
O Presidente que se abriu em longas respostas ao jornalista Mino Carta é rigorosamente o mesmo Lula tolo e parlapapão, cheio de defensivas, irremediavelmente vazio. Mas há algo de diferente no "torneiro mecânico que chegou a Presidente", conforme se qualificou Lula. O ex-metalúrgico sugeriu agora habitar o ambiente da leitura. Fidalga revelação para um Presidente que até então se gabava de ser um expansivo iletrado. É o máximo quando citou que resolvera atacar com afeto e força os problemas estruturais do nordeste brasileiro depois de ter lido uma obra de Roosevelt sobre o Tennessee. Só faltou citar William Faulkner. Aí, seria demais! Certamente despertaria a fúria do leitor de Carta Capital. Lula pareceu de fato estar munido dos altos valores da consciência e do saber quando, ao ingressar no domínio da reflexão, afirmou: "Eu não sou cientista político, mas eu analiso muito as coisas que leio e ouço". Em tom paternal, esposou a filosofia de coisa alguma no instante em que cunhou profundo pensamento: "Olhe, a democracia é um exercício eterno de paciência, de tolerância, de saber onde começa o direito de um e termina o direito do outro, de saber qual é o limite de cada um..." Em outro momento, reforçou a idéia de que a Presidência da República lhe conferiu ampla e abalizada erudição, matriz de seu confortável e paradoxal otimismo. Assim falou Lula: "Não sou economista. Não sou de fazer prognóstico. Economista é que faz prognóstico, mas tenho dito para todo mundo que não tem por que o Brasil não crescer 5%, ou acima de 5% em 2006, não tem por quê (sic)." Senhoras e Senhores Senadores, Lula é um talento. Não faz prognóstico, mas não perde a oportunidade de dar um palpite. O Presidente do Brasil é realmente de uma singeleza anormal!
Senhor Presidente, me causou espécie e preocupação a declaração de Lula de que estaria sendo vítima de tentações golpistas por parte da oposição, assim como ocorreu ao idealizador e líder do Movimento Revolucionário Bolivariano, agora sócio do Mercosul, o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Para reforçar as palavras presidenciais, neste final de semana petistas de escalada cultura formal foram buscar abrigo na história, sempre a história, para acudir Lula. A partir de fraco impulso historiográfico tentaram mostrar que a atual conspiração de direita faz parte de uma continuada campanha desestabilizadora que começou no segundo mandato de Getúlio Vargas.
Seríamos, com alguma atualização, inconseqüentes lacerdistas prontos a disseminar a maledicência e arquitetar as derrocadas. A palavra de ordem é dar contorno udenista à oposição brasileira para nos descredenciar perante a opinião pública. Para apoiar patusco besteirol, só faltou ao PT a visualização de quarteladas, sussurros e ardis.
Como Lula anda a ler de forma dedicada, acredito que o delírio golpista pode ser obra de contaminação intelectual das histórias da cavalaria andante. Não foi a empresa malandrina do PT que conspurcou a história do Brasil e sim a oposição, que teria inventado tudo para desapeá-lo do poder pela via da ruptura da democracia. Lula prefere, conforme asseverei, transferir o pacto de corrupção firmado entre os seus para algo fora da realidade. Do valerioduto, o Presidente se transporta ao mundo fantasioso e trata a oposição como o insolente gigante contra qual combatera Dom Quixote de la Mancha.
Então, o maior esquerdista do mundo agora quer repristinar a causa santa do socialismo e se mostrar o antagonista da macróbia e facínora direita. Há apenas um pequeno detalhe que irá invalidar o argumento. Ser de esquerda no Brasil era lindo, crível e axiomático antes de o PT perder a coluna da ética na política. Imerso na imoralidade, não tem mais o aval inato da sensatez. Perdeu o senso até mesmo do politicamente correto. Neste momento, Lula ainda pode se valer da multiplicidade de versões e dos rituais de passagem para se manter respirando. Na campanha eleitoral vai ter de encarar a hora da verdade. Quedará desmoralizado e terá, claro, o seu lugar na história. Passará a dividir a prateleira com Fernando Collor de Melo.
Obrigado.

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