domingo, julho 01, 2007

Diário da Manhã III - Uma resposta a Lino de Almeida

Caros amigos da manguaça,

Tomo a liberdade de publicar, neste espaço, o comentário que um de nossos leitores, Lino de Almeida, deixou no primeiro post com o tópico Diário da Manhã.

Caro Schultz, já que você se diz um democrata, acredito que gostará de ler uma opinião divergente sobre tal assunto. Permita apresentar-me como o infeliz responsável pelos mais de sete anos de Diário da Manhã na Cultura FM. Um dia, em 1999, no Teatro São Pedro, em um concerto da OSESP, o Salomão sentou-se ao meu lado, por acaso. Na época eu trabalhava na rádio e produzia, entre outros, um programa chamado “O Colecionador”. Já havia feito programas com o irmão do Salomão, Natan, um célebre violinista, spalla, inclusive, pessoa de excelente caráter e ótimo músico. Então puxei conversa. Papo vai, papo vem, acabei por convidá-lo a participar de tal programa. Para quê... Na época, o gerente da rádio, pessoa sem nenhum talento artístico e cultural, gostou da idéia e, aproveitando a presença do Salomão na emissora, convidou-o a fazer um piloto de programa jornalístico. Surgia o “Diário da Manhã”, que trouxe à Cultura FM, além de comentários políticos tendenciosos, e muito merchandising, a mais espúria programação musical possível para quem aprecia música clássica.
Lembro-me de ter recebido centenas de reclamações na época. E é com imensa satisfação que vejo o encerramento dessa infeliz história. Vou até poder voltar a programar o meu rádio-relógio nos 103,3 MHz, que ótimo!Viva a velha-nova Cultura FM! Parabéns ao Paulo Markun pela coragem de fazer cumprir à risca os estatutos da Fundação Padre Anchieta.

Caro Senhor Lino de Almeida, 

Achei por bem postar sua resposta aqui do que deixá-la perdida num post passado. Obrigado por seu cometário. Vamos começar pelo começo, está bem?
Não me digo apenas democrata. Sou democrata, na medida em que sou contrário aos regimes totalitários e ditatoriais. A democracia pode não ser perfeita, mas ainda não inventaram nada melhor. Mas se o senhor me perguntasse, diria que sou um liberal com alguma tendência ao conservadorismo, e como liberal, sou um amante fanático da liberdade de expressão. 
Segundo ponto, deixe-me agradecê-lo pelos maravilhosos 7 anos e meio de Diário da Manhã, já que o senhor se diz responsável pela sua existência. 
O senhor acusa o Diário da Manhã de apresentar "comentários políticos tendenciosos, muito merchandizing e a mais espúria programação musical possível". Ora, todo comentário político é tendêncioso, na verdade, todo comentário é tendencioso de modo geral. Um comentario, de acordo com o Houaiss é "observação, parecer, ponto de vista". Todos os apresentadores emitem comentários, ou seja, opiniões pessoais de seu ponto de vista, e portanto, opiniões tendenciosas.  E assim é desejável, por isso o programa tem um apresentador. Do contrário, vamos simplesmente tocar músicas e cortar toda e qualquer atuação humana. O que, na minha opinião tendenciosa, seria chato, sem contar que, quando eu quero simplesmente ouvir música, eu ligo o meu ipod ou o cd do carro e nem preciso passar pelo desconforto de ter que aturar um sinal fraco, como é o caso da rádio Cultura fm. 
Agora, o que exatamente no comentário tendencioso do Salomão você não gostava? O fato de ser um comentário tendencioso anti-esquerda e, de modo geral, um pouco elitista? Qual o problema disso? Nós já sabemos que os ouvintes do programa eram da classe A e B. O povão não ouve esse tipo de coisa. O programa, portanto, estava emitindo opiniões da elite, para uma audiência que é composta, em grande parte, pela elite. Ou será que a "elite de direita" não tem direito a ter um programa também? O que eu mais vejo são programas com opiniões tendenciosas da esquerda "pé de chinelo". Porque não um programa para a elite da direita? 
Continuemos pois. Qual o problema do merchandizing? Até onde eu sei, o anunciante ganha espaço na rádio em troca de um pagamento que, no programa de maior audiência da rádio, não deve ser pequeno. Qual o problema disso? Mais dinheiro significa que a rádio pode se modernizar, pagar melhores salários, e quem sabe, resolver o problema do sinal fraco.
E por fim, falemos no que, para o senhor é a "mais espúria programação musical possível". Primeiro um comentário tendencioso de minha parte: espúria é a programação das outras rádios fm, com seus funks asquerosos e a inundação da música black norte-americana. O Diário da Manhã tocava muita música clássica e muitos clássicos da música popular mundial. E às vezes, numa ironia bem temperada, acrescentava uma ou outra música para dar enfase à discussão política, como foi o caso do "Samba do Urubu". 
Seja como for, outras 29.999 pessoas concordam comigo que o programa era excelente. E mais, graças ao Diário da Manhã, a rádio cultura conquistou muitos ouvintes que, como eu, passaram a ouvir o resto da programação depois de cativados pelo Salomão e Alfredo.
O senhor recebeu centenas de reclamações à epóca? Aposto que a rádio cultura fm está recebendo milhares de reclamações agora. 
Sinto profundamente pelo comportamento anti-democrático da rádio Cultura fm que não levou em consideração a opinião dos ouvintes do programa. Na verdade, essa ausência de consideração para conosco me parece mais como uma afirmação de que não somos necessários. Estou certo que, em breve, o brilhantismo do Salomão Schvartzman estará sendo aproveitado em outra rádio, que não considere a mistura de música clássica com clássicos da música popular mundial espúria, que não rejeite anunciantes, que não seja contra a liberdade de expressão e que não seja tão descortês com milhares de leais ouvintes. 
Mais uma vez, obrigado por seu comentário.

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