sábado, março 18, 2006

O esconderijo da incompetência é o melindre

por Christina Fontenelle (leia mais)
O esconderijo da incompetência é o melindre

Muitos daqueles que vêem seus argumentos derrubados ou findados, numa discussão qualquer, se refugiam no melindre, na posição de ofendidos, de modo a fazer com que aquele que tenha sido mais eficiente na argumentação deixe o palco do evento como ríspido ou até mesmo agressivo. O mais engraçado é que os ditos melindrados falam o que querem, ofendem à vontade, fazem-se de surdos aos apelos da razão, mas, sentem-se ofendidos ao ouvir uma única verdade que os faça calar.

Gritam, saem andando, choram – vale tudo para não se render à verdade. E não se está, aqui, a falar de verdades inutilmente grosseiras, como "você é um idiota", ou coisa parecida. Digo verdades que estejam relacionadas com um determinado tema qualquer, mas que envolvam diretamente o universo da vida do melindrado, como por exemplo, "você fala isso, porque nunca passou por aquilo". Pronto, é o suficiente! O melindrado sente-se mortalmente ofendido. Se estivesse seguro de suas posições, ele (que nesse caso não seria melindrado) reagiria normalmente e contra argumentaria, calmamente.

Mas, como o objetivo dos inqualificáveis é vencer a discussão e não acrescentar ou discutir – no sentido de troca – absolutamente nada, recorrem, covardemente, à posição de ofendidos, porque sabem que ganharão, ao menos, a solidariedade da maioria, que tende a proteger e amparar os mais fracos. Os mais inteligentes são sempre vistos como ríspidos, arrogantes e agressivos. A verdade é que inteligência ofende mesmo, principalmente quando diz a verdade – coisa que quase sempre faz.

Eu nunca conheci um ser humano inteligente que tenha se ofendido pessoalmente por alguém ou algum fato. Conheci, sim, os que se entristeceram por não se fazerem entender ou por não encontrarem interlocutores saudáveis. Se a inteligência e a cultura não fossem, para tantos, imperdoáveis, saberiam o tamanho do regozijo que provoca assistir o debate entre duas mentes brilhantes.

Mesmo que, aos olhos de todos, alguma coisa pareça ofensa, para os inteligentes e seguros de si, é apenas fruto de burrice ou ignorância. Não voltam para falar nada, para convencer ninguém ou buscar aprovação, pois sabem que o tempo se encarregará de demonstrar sua razão e a verdadeira face dos ofensores. Porque os mais inteligentes não precisam convencer, eles têm sempre a necessidade de acrescentar – são coisas bem diferentes.

Como nos filmes de ficção, onde somente um andróide pode reconhecer, ou mesmo perceber, a presença de outro andróide, assim se dá com aqueles que têm o dom da inteligência universal – eles são capazes de reconhecer um ao outro, no meio de uma multidão, numa simples troca de olhar (hoje, com a Internet, também na troca de e-mails). É universo para poucos e somente eles sabem o preço que pagam.

Os incompetentes e os culpados escondem-se atrás do melindre, como se, mentido para os outros, pudessem enganar suas próprias consciências, tentando, desesperadamente, convencer que sejam vítimas, quando, na verdade, não conseguem é lidar com sua incapacidade de ser aquilo que admiram. Passam a vida toda alardeando aquilo que presumem ser suas qualidades, para esconder o que, para eles, são seus irreveláveis defeitos.

Invejam a liberdade e o vínculo com a verdade dos inteligentes, punindo-os com melindres, para torná-los, aos olhos dos outros, ríspidos, agressivos ou arrogantes. São as "vítimas", os "pobre-coitados", que não assumem que foram ofendidos, não pela suposta atitude ríspida, ou "socialmente inconveniente", como diriam outros, mas sim pela verdade – que não suportam ouvir e tentam avidamente esconder, não só dos outros, mas principalmente de si mesmos.

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