segunda-feira, agosto 29, 2005

É "pá-ciença"!


"Nem farei o que fez Getúlio Vargas, nem farei o que fez Jânio Quadros, nem farei o que fez João Goulart. Meu comportamento será o comportamento que teve Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência. A verdade prevalecerá e o povo brasileiro vai saber verdadeiramente o que está acontecendo no Brasil."
luiz Inépcio lula da silva, "presidente da República", ontem [26/08/2005] na Folha.


Paciência, paciência

Por Danusa Leão [em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0106200308.htm]

Já está ficando monótono. A vida ia melhorar, mas, da posse para cá, só duas pessoas não conseguem esconder sua felicidade: Lula e Marisa.

Tem muita gente mal; mal e com medo de ficar pior ainda. Mas não reclamávamos, todos, do dólar, que só fazia aumentar? Então não era para estarmos todos felizes porque ele baixou? Ah, essa tal dessa economia.

Dentro do mesmo tema, também não dá para entender por que os juros do cheque especial estão a 150% ou 170% ao ano, sei lá; mas quando se investe (no mesmo banco), o rendimento é de 0,70% ao mês. Ora, se é o NOSSO dinheiro que eles emprestam a juros altíssimos, por que o NOSSO rendimento é quase nada? As únicas pessoas felizes neste país, além de Lula e Marisa, devem ser os banqueiros, mas como a esperança ainda não morreu, esperamos o dia de ver Lula na televisão, num daqueles discursos inflamados, falar que chegou, enfim, a vez dos bancos (porque sobre as reformas tributária e previdenciária ninguém aguenta mais).

Enquanto isso não acontece, vamos nos adaptando aos novos tempos; se possível, sem medo de ser infeliz.

Para começar, saia de casa o menos possível; quando não puder mesmo evitar, passe reta, sem olhar para nenhuma vitrine.

Olhou, vem a tentação, o cartão de crédito está no bolso -se parcelar, são 10% ao mês- e algum consumo sempre faz bem à alma (e dependendo, ao corpo também). Corte a aula de ginástica e exercite-se em outras atividades: passe a ir à feira, mas bem tarde, quando tudo já baixou de preço, e volte carregando as sacolas, já que a diarista passou para duas vezes por semana. Só com isso você já desempregou dois, o professor de ginástica e a empregada. Ah, e dispense a faxineira que vinha de 15 em 15 (atenção, Dieese), já são três).

Mas vai piorar: a manicure -afinal, quem não consegue cuidar das unhas sozinha?- e o cabeleireiro -uma escovinha rápida é moleza. Agora, Dieese, já são cinco.

Cinema, nem pensar: muita televisão, muitos filmes no vídeo.

Forme um grupo de amigos para alugar vários a cada fim de semana, sorteando os horários.

Pode ser que o que você mais quer ver só esteja disponível às 3h da manhã, e aí não tem jeito.

Faça um derradeiro esforço e fique acordada, pois o serviço despertador da companhia telefônica é cobrado.

A alimentação vai mudar, claro, e para economizar só existem duas opções de comida barata: legumes em água e sal, o que vai fazer de você um palito subnutrido, ou massas, e aí você vai ficar gorda e subnutrida. Detalhe: você já reparou que um pacote de macarrão italiano (que dá para quatro pessoas) custa R$ 4,20 e o mesmo macarrão, dependendo do restaurante, custa de R$ 30 a R$ 50 a porção? Voltando às compras: peixe e camarão só em fotografia, e galinha, só aos domingos.

É mais um sacrifício pelo país; a vida vai ficar menos engraçada, as famílias talvez briguem um pouco mais, já que não podem sair de casa para não se arriscarem a levar um tiro, mas tudo bem; brasileiro é gente boa e paciente, quem não sabe?

O grande problema vai ser a falta de comunicação. Não se vai mais poder falar no telefone com a filha que mora no Sul, com a amiga que vive em Buenos Aires, nem com o namorado do momento, que pode estar em qualquer lugar do mundo.

A crise não aproxima ninguém, só afasta, e não estimula arroubos mais românticos.

A crise entristece, e não é justo que aconteça exatamente nas vidas de quem, nas últimas eleições, não teve medo de ser feliz.

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Hic! hic! hic!

Só mesmo "enchendo a cara"!

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