O TEMPO, A RAZÃO E AS PESSOAS
Há situações que de algum modo "marcam". Em Dezembro/2002, por causa do texto abaixo, dirigido a um participante do Fórum de Leitores do Estadão, conquistei um ferrenho "inimigo" virtual. A situação é verdadeiramente marcante, porque ao longo do tempo, li manifestações do mesmo "inimigo" que mais pareciam um reconhecimento público de que eu estava com e ele sem a razão que de algum modo discutíamos. Por isso, acho que vale a pena "recuperar a mémória", como segue.
«Sr. 'Fulano', de Belo Horizonte, em 18/12/2002 às 16h34min.
Alguém já disse que O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO.
O amigo já deve ter reparado que a diversidade de opiniões nesta pauta é verdadeira e 'interessantemente' democrática.
Há opiniões para todos os gostos.
Todos têm a liberdade de falar o bem entendem e às vezes encontram eco. Foi bem assim que o Sr. 'beltrano' tanto falou que encontrou em V.Sa. um admirador incondicional.
Neste sentido, quanto à sua última e respeitável intervenção, permito-me dizer que cada um ao seu tempo — seja Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek ou Fernando Henrique Cardoso —, tiveram seus méritos e deméritos.
GV e JK criaram e construíram num Estado e numa economia incipiente, num mundo ainda em desenvolvimento, onde qualquer coisa que se implantasse seria verdadeiramente revolucionário, tal como a primeira missa celebrada por Frei Henrique de Coimbra na "Ilha de Vera Cruz...".
Lula está tendo o seu momento e de algum modo (bom, mal ou indiferente) também marcará sua época, como uma quadra vivida — contra ou a nosso favor —, mas só o tempo, no devido tempo nos mostrará o balanço de sua "temporada".
Divirjo de sua opinião, pois entendo que foi FHC quem sucumbiu com a inflação e espoliação inventados desde o achamento destas terras por Pedro Álvares Cabral (exagero?), recriada por GV, sofisticada por JK e alimentada por todos os seus sucessores, através de "brilhantes" e mirabolantes planos e iniciativas econômicas — sem consistência — até o advento do Plano Real.
A revista Veja, edição nº 1782, desta semana ("logo a Veja?", ora direis...) trouxe excelente matéria que mostra a "era FHC" exatamente como a percebo, ou seja, quando os hipossuficientes melhoraram de condições de vida, a sociedade obteve ganhos exponenciais de qualidade de consumo e acesso a bens, informações e até riquezas, com definitiva inserção no "mundo globalizado" —, mas tanto se acostumou com o que havia de melhor, que por não melhorar ainda mais, se aborreceu e votou por "mudanças".
Para quem acompanha a realidade do mundo verá que se não estamos como gostaríamos, até que nem estamos tão mal (desculpe-me pela assertividade, mas procure saber sobre a existência/aumento da miséria nos EUA, na Europa e até no Japão!).
FHC e os tucanos de boa cepa melhoraram por demais este País, mas só o tempo fará com que os céticos aceitem tal realidade.
Agora se o amigo atribui a paternidade do Plano Real a Itamar, tudo bem, não vamos discutir — fazer o que?
Diante de tal afirmação fico a me indagar sobre o motivo pelo qual Itamar não foi tão brilhante como governador dos mineiros neste mandato que se encerra... Mas sua ilustre e bem arrazoada opinião deve ser respeitada.
Da mesma forma, nada mais há por se fazer, senão respeitar, torcer e tentar ajudar o presidente eleito, Sr. Lula da Silva a tentar fazer algo de bom.
Agora, se o amigo prestar pouca — não precisa ser muita — atenção e observar que tudo o que o governo eleito tem feito é seguir a exata receita daquele que se retira, perceberá que TODOS fomos literalmente enganados, ou seja, tanto nós que não votamos em Lula da Silva, quanto aqueles (como V.Sa., talvez) que tenham confiado em suas propostas, pois ele as tem renegado a todas.
Isto até que poderia ser visto como boa conduta pelos que como eu votaram em José Serra, mas perceba que além de não possuir quadros e ter que lutar contra amargas e sagazes correntes, tidas como radicais em seu seio, o PT terá de aprender a governar enquanto governa, e nós, em São Paulo, já conhecemos o filme com Dona Marta Thereza Smith Vasconcellos [ex] Suplicy — de cuja experiência a maioria se ressente, pelas verdades que o tempo — e só ele nos tem mostrado.
Aliás, exatamente como visto nas últimas eleições, a maioria de quem votou no PT, em eleições passadas, não repetiu o voto.
É pena, mas a maioria dos que nele votaram, o fizeram por não terem aceito que o mundo está em recessão e que o País não conseguia melhorar estando o mundo inteiro em agonia.
Mas o tempo — e pouco tempo — já nos tem dado algumas mostras de como o tempo nos será implacável...
O tempo... Que tempo...? Ora o tempo!
Saudações,
N.Abreu - São Paulo – Capital - 19/12/2002»
E não é que o tempo - e só ele e sempre ele -, após tanto tempo, se prova o "Senhor da Razão"!?!