O Mollusco que queria ser Rei - Um conto de fadas
Era uma vez um vasto reino sul americano, cheio de riquezas e belezas. Neste reino, coaxava um pequeno sapo barbudo, com sonhos de grandeza e vitória. Apesar de ambicioso, o pequeno sapo barbudo não tivera a chance, ou vontade, de se educar. Os anos passaram e o pequeno sapo barbudo cresceu e virou um grande sapo barbudo, que foi ganhar o pão de cada dia até que um terrível acidente o deixou inapto para o serviço. Agora, contando com muito tempo livre, o grande sapo barbudo se deixou encantar novamente, com sonhos de grandeza e vitória, e resolveu se tornar um encantador de massas. Então começou uma estratégia, na qual resolveu deixar de ser sapo e se tornar molusco, ser muito mais apreciado, especialmente na culinária tropical, reuniu-se com intelectuais frustrados e raivosos e fundou um partido político.
E por muitos anos andou encantando o povo, até que um dia resolveu deixar de ser molusco e virar Rei. Ó, que sonho mais lindo de grandeza e vitória.
No entanto, o sapo barbudo virado molusco ainda não conseguira conquistar todo o povo, ainda lhe faltava um certo charme, um certo quê, que o tornaria aceito entre todas as classes sociais. Porque, apesar de molusco, ainda se via nele o velho e grande sapo barbudo. Então, com a ajuda dos intelectuais frustrados e raivosos, ele mudou radicalmente, e não mais se pôde ver nele o reflexo do tão rejeitado sapo barbudo. Agora ele se tornara um completo Mollusco. E seguiu, assim Mollusco, encantando o povo do vasto reino tropical. E foi eleito presidente pela maioria encantada do povo.
E como prova de agradecimento, o novo presidente Mollusco nomeou seus companheiros intelectuais frustrados e raivosos para todos os cargos que conseguiu encontrar, e estou certo, criou alguns mais para poder preenchê-los também de intelectuais frustrados e raivosos. Acontece que, os intelectuais frustrados e raivosos, em sua grande maioria, e seus companheiros não tão intelectuais, mas igualmente frustrados e raivosos, se deixaram mesmerizar pela enorme quantidade de ouro e pedras preciosas que o reino estava juntando para ajudar a melhoria das condições de vida no vasto reino. E, não conseguindo conter-se, andaram enfiando as mãos no ouro do povo. Diz-se por aí, que esse ou aquele intelectual frustrado e raivoso, em companhia dos companheiros menos intelectualizados, andaram fugindo com ouro nas cuecas. É o que diz a voz do povo, e como já diz o velho ditado, a voz do povo, é a voz de Deus. (Mas não quero concordar com tal ditado, visto que estaria aceitando que Deus escolheu o sapo barbudo como líder do vasto reino tropical – coisa que aliás foi repetida aos quatro ventos pelo agora Mollusco, que se dizia imbuído de uma graça messiânica. Porém isso nem vem ao caso na presente história, então continuemos de onde estávamos).
Como eu dizia, os intelectuais frustrados e raivosos e seus asseclas não intelectualizados, frustrados e raivosos, encheram os bolsos, as meias e as cuecas com o ouro do povo de modo sub-reptício. Porém foram descobertos com o ouro na botija. E quando a história vazou, ficou-se sabendo, por alguns membros do governo menos aquinhoados, que o Mollusco andara distribuindo uma verba não declarada com o fim de fazer amigos e influenciar pessoas. E quando o povo ficou sabendo foi reclamar com o Mollusco. E o Mollusco “chocado” chorou, alegou inocência e se disse traído. Ora, o povo acreditou na dita inocência de seu presidente e andou clamando as traiçoeiras cabeças intelectuais, frustradas e raivosas, porém poucas foram as cabeças cortadas. Não vou entrar no mérito desta questão, porque nem eu mesmo saberia explicar semelhante safadeza. Tudo que posso dizer é que corre o boato de que o Mollusco andou molhando mãos, soltando verbas, comprando votos e ex-inimigos, agora bem aquinhoados. Então, avancemos.
Ora, então o povo estava ainda encantado, e se aproximavam as próximas eleições e com elas, os sonhos de grandeza e vitória do ex-sapo barbudo, atual Mollusco. Sonhos de conseguir, como outro sapo barbudo conseguira em um pequeno reino cercado de águas tropicais, permanecer no poder e enfim, tornar-se Rei. E como todos sabemos, todo sapo tem sonho de virar príncipe e por fim, rei. E as pesquisas eleitoreiras comprovavam que o Mollusco estava à frente de seu oponente, um Chuchu aguado e, diziam as más línguas, religioso extremista. Porém, a grande parte dos intelectuais que não eram nem frustrados nem raivosos viam nele uma chance de se libertar do Mollusco, que na realidade, não passava de sapo barbudo disfarçado. E como esses intelectuais poderiam mudar a opinião do povo, o Mollusco que já havia soltado uma verba para fazer amigos e influenciar pessoas, resolveu também influenciar o povo, e com isso, aumentar definitivamente o encantamento.
Então, após uma reunião a portas fechadas com o restante dos intelectuais frustrados e raivosos, ficou decidido que seria distribuído um vale pirulito, um vale coxinha e um vale cueca usada para cada indivíduo pertencente à massa popular, todos os dias da semana.
E assim, o Mollusco se preparou para a sua reeleição, já sonhando com o plebiscito, idéia de um amigo seu, governante sul americano, onde o povo lhe daria a presidência vitalícia, durante a qual ele se declararia Rei. Como esta estória terminou, não sei muito bem, só sei que entrou por uma porta e saiu pela outra, e quem quiser, que conte outra.