quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Mentindo com números


Roberto Fendt em 01 de fevereiro de 2006
Para não enganar os leitores com fatos e contextos desonestos, como fez o jornal O Estado de S. Paulo em relação a "economia recorde" do governo federal nas contas públicas, seria desejável que os jornais reportassem os fatos no contexto honesto.
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Há três maneiras de apresentar um fato. A primeira consiste em apresentar um fato que não é verdadeiro, como se o fosse; a segunda é apresentar um fato verdadeiro em um contexto desonesto; e a terceira, cada vez mais rara, é apresentar um fato verdadeiro em um contexto honesto.
Os jornais de hoje apresentam juntos os seguintes fatos: primeiro, o superávit das contas públicas atingiu 4,84% do PIB; segundo, esse superávit é o maior em 11 anos; terceiro, trata-se da maior economia nas contas públicas desde 1994: R$ 93,51 bilhões; finalmente, o superávit é ainda insuficiente para pagar os juros de R$ 157,1 bilhões.
Antes de mais nada, observe-se que o superávit a que a notícia se refere é o chamado superávit primário – correspondente à diferença entre o total das receitas dos três níveis de governo e estatais menos o total das despesas, exclusive pagamento de juros. É um fato. Como é fato que, nesse conceito, o superávit é o maior em 11 anos. E também é fato que R$ 93,51 bilhões é um valor menor que R$ 157,1 bilhões – de todos esses fatos, o menos controvertido.
O contexto desonesto é o seguinte: o governo em seus três níveis não teve superávit algum. Na verdade, considerados os totais de receitas e despesas (inclusive com juros) dos três níveis de governo mais estatais, o governo teve um déficit – chamado de nominal – de mais de 3% do PIB. Portanto, não foi feita “a maior economia nas contas públicas desde 1994”, como reportou o Estadão de hoje: simplesmente, o governo bateu um novo recorde de arrecadação de tributos e ainda assim não foi capaz de pagar as suas contas. Tanto isso é fato que a dívida pública bruta aumentou, a despeito da suposta “economia nas contas públicas”.
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