Um primor de texto!!!
Hoje, Reinaldo Azevedo (Primeira Leitura) publicou texto de um leitor que vale a pena ser reproduzido. Aquele que Reinaldão se refere como "O" sintetizou, em algumas linhas, o sentimento de muitos de nós guarda há muito tempo na garganta. Vejam:
O lobo perde o pêlo, mas não perde o vício. Agora, o fracasso dos intelectuais de esquerda em perceber a empulhação de que participavam nos é apresentado como o fracasso “dos intelectuais”. Jabor vem, semana após semana, fazendo em público sua psicanálise, mas apresenta cada pequeno passo — seu, dele — para longe do stalinismo como uma iluminação coletiva, uma conquista “dos brasileiros”. Hoje Cristovam Buarque escreve (na mesma linha de confundir auto-esclarecimento com aprendizado coletivo) que “os intelectuais brasileiros se calaram”. Título do seu artigo: "Não estamos à altura da crise". Como diria o Tonto, “nós quem, cara-pálida?”.
Há dias, um professor de contabilidade concluiu que, somados, votos nulos mais abstenções mais votos em outros candidatos superam os votos dados a Lula; em suma, Lula nunca teve o tal “apoio esmagador” da população. Esmagador, na verdade, foi o ruído que a esquerda promoveu, capaz de transformar a maioria lulista em unanimidade... E o pensamento de esquerda em “o pensamento”.
Não sou um especialista e não posso, por isso, apresentar a fotocópia do cheque (e a esquerda ainda se pretende antipositivista...). Mas certamente Olavo de Carvalho, Primeira Leitura, Mídia sem Máscara, Pensata, DiegoCasagrande e muitos outros — anônimos para a grande maioria — não passaram um único destes mil e tantos dias sem bater duro e profundamente no petismo. O Conselho Federal de Jornalismo não passou; a tal Ancinav não passou; essas e outras medidas de inspiração totalitária foram denunciadas e derrubadas pelas forças democráticas da sociedade brasileira.
Essas forças derrotaram o petismo. Elas levantaram suspeitas sobre os “puros”, “envenenaram a atmosfera” e tornaram plausíveis as denúncias de Roberto Jefferson. E são essas forças que o petismo (de Jabor, de Cristovam Buarque, entre inúmeros outros) pretende agora fazer desaparecer, apresentando a queda do petismo como conseqüência de uma loucura individual, e, pior, apresentando a sociedade em que o petismo prosperava (e como prosperava!) como um enorme campo em silêncio. Não é verdade.
Havia vozes críticas, democráticas — os “anticomunistas ferozes”, os “paranóicos”, os “direitistas ressentidos”, os “saudosos de 1964”, enfim, os “agentes da CIA” de sempre — denunciando o petismo, mostrando o verdadeiro sentido das suas iniciativas, lutando bravamente, em minoria, contra a maré totalitária.
Aceitar a tese do “silêncio dos intelectuais” ou do “fracasso dos intelectuais”, assim, na generalidade, é, usando uma expressão muito antiga, “levar água ao moinho do petismo”. Tal como Luís Fernando Veríssimo — para quem, se não dá para confiar em Lula, não dá para confiar em mais ninguém —, as teses dos novos repentiti querem apresentar a falência da esquerda, a sua própria falência enquanto intelectuais, como a falência de todo o pensamento político. Admitem a derrota do totalitarismo, mas se recusam a conceder legitimidade ao pensamento antitotalitário. Nunca ouviram os intelectuais democráticos porque viam neles os representantes da “direita”, e um bom intelectual de esquerda, como se sabe, só escuta o que lhe entra pelo ouvido esquerdo.
Tudo o que se manifestou fora desse “campo” foi tratado como não-pensamento, não-teoria. Por isso, hoje, ousam dizer “fracassamos”, mas não têm a dignidade de dizer “os democratas venceram”. Perdem o pêlo, mas não perdem o vício.
Estou aqui me deliciando mais uma vez com este texto, "bebemorando" com uma bela taça de vinho!!!